sábado, 8 de outubro de 2016

Aniversário 10 anos + Nova espécie de Hyphessobrycon

Após um tempo sem postagens, retornamos para comemorar o aniversário de uma década de Nature Planet no ar.



Para comemorarmos esses 10 anos, apresentamos a descrição de uma maravilhosa espécie de Tetra.
  
O famoso tetra ornamental, bastante conhecido no comércio aquarístico com os nomes “Red Rainbow Tetra”, “Blueberry Tetra” e também como Inpaichthys sp. “Blueberry” devido sua exuberante coloração azul/roxa no corpo e por possuir as nadadeiras vermelhas, acaba de ser oficialmente descrito.



 
Hyphessobrycon wadai. Foto em vida


Anteriormente, a espécie era normalmente chamada pelo nome científico Hyphessobrycon coelestinus, um nome usado erroneamente em essa espécie.




Hyphessobrycon coelestinus. Foto F. Carvalho.


Hyphessobrycon wadai foi descrita em homenagem ao nosso amigo Luiz Wada, um dos principais criadores dessa espécie no Brasil. Esta espécie é proveniente de um afluente da bacia do rio Tapajós, no estado do Mato Grosso, Brasil.
Suas principais características são, a presença de uma única mancha umeral, ausência de uma mancha distinta no pedúnculo caudal, ausência de um linha lateral escura bem definida no corpo, presença de 16-18 raios ramificados na nadadeira anal, nove raios ramificados na nadadeira dorsal e seis raios ramificados na nadadeira pélvica.

Hyphessobrycon wadai. Foto Spectrumaquarium


Etimologia O nome específico, “Wadai“, é em homenagem a Luiz Wada, grande criador de peixes ornamentais e aquarista entusiasta, em reconhecimento a sua ajuda na pesquisa científica com peixes.




Distribuição e habitat.
A espécie é conhecida dos tributários do Rio do Sangue, afluente do Rio Juruena, bacia do alto Rio Tapajós.




 
Rio Curuína, tributário do Rio do Sangue.


Dimorfismo sexual
A coloração do macho de Hyphessobrycon wadai durante o período reprodutivo é mais intensa do que das fêmeas (L. Wada, com. pessoal).


Para saber mais:

Marinho, M.M.F., Dagosta, F.C.P., Camelier, P. & Oyakawa, O.T. (2016): A name for the ‘blueberry tetra’, an aquarium trade popular species of Hyphessobrycon Durbin (Characiformes, Characidae), with comments on fish species descriptions lacking accurate type locality. Journal of Fish Biology

Adaptado e traduzido por Ricardo Britzke © Copyright 2016 ©

terça-feira, 5 de julho de 2016

Coleta de Pterophyllum altum na natureza

Pterophyllum altum Pellegrin, 1903
 
Pterophyllum altum - Foto Ivan Mikolji - Rio Atabapo

Descrita por Jacques Pellegrin na bacia do alto Orinoco, Atabapo, Venezuela.
Esta espécie possue o corpo mais triangular, barras verticais mais amplas, contorno pré-dorsal mais visível, maior número de escamas (46-48) ao longo da linha lateral e comprimento padrão de 6,5cm. Sua distribuição compreende o alto rio Negro (bacia amazônica) e alto rio Orinoco nas regiões da Colômbia e Venezuela, preferencialmente em águas negras e cristalina de rios  e córregos lentos em meio a densa vegetação aquática, com grande quantidade de raízes e troncos.
 
Etimologia: altum, do Latin altus, um adjetivo de alto.
 
Essa é espécie ornamental de Acará Bandeira (escalar) mais requisitada no aquarismo, principalmente no internacional, e de acordo com a localidade de coleta, possui uma leve variação no padrão de colorido, o que acaba valorizando as diversas populações da espécie.

A seguir, alguns vídeos de coletas desses animais na natureza e como são mantidos em aquários (em inglês).










Mais informações gerais sobre o gênero e a espécie em:
 
Nature Planet
 
Ciclídeos.com
 
Ivan Mikolji - Rio Atabapo


quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Aniversário 9 anos + Nova espécie de Aequidens

Mais uma ano se passou, e o NATURE PLANET completa 9 anos no ar.
Mesmo offline por algum tempo, o blog retorna novamente para seguir seu propósito.




Pra você que pensou que não haveria comemoração de aniversário mais uma vez, aqui apresentamos mais uma matéria. E aguardem novidades em breve.


Uma nova espécie do gênero Aequidens é descrita da bacia do rio Cassiquiari, um rio que conecta as bacias do rio Negro e do Rio Orinoco (Venezuela). Aequidens superomaculatum se diferencia das demais espécies do gênero devido a presença de uma banda lateral contínua e principalmente pela posição superior da mácula lateral em ambas partes do corpo.


 Aequidens superomaculatum. Holotipo: MBUCV V- 35740, ejemplar adulto 87,43 mm LE; río Baria, cuenca del río Casiquiare, estado Amazonas,Venezuela. Escala 10 mm.

Etimologia O nome "Superomaculatum" é referente a posição superior da mácula lateral. Do latim Superó = superior e Macula = mácula, mancha.

Distribuição e habitat. Espécie coletada em diversas localidades do alto rio Negro e igarapés afluentes do rio Cassiquiari. Na área norte foi coletado no rio Cunucunuma e La Esmeralda, afluentes do rio Orinoco. Na bacia do rio Cassiquiari foi coletada nos igarapés Caripo, La Esmeralda e rio Pomoni. Nárea sul foi coletada no iagarapé Paripari, afluente do rio Negro; e no rio Baria afluente do rio Cassiquiari, nos pés da serra La Neblina, próximo com a fronteira do Brasil.
Coloração do exemplar em vida

Para saber mais:

Hernández-Acevedo, J. A. Machado-Allison y C. A. Lasso. 2015.Aequidens superomaculatum
(Teleostei: Cichlidae) una nueva especie del alto Orinocoy Río Negro, Venezuela. Biota Colombiana 16 (2): 96-106.
Adaptado e traduzido por Ricardo Britzke © Copyright 2015 ©

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Aniversário de 8 anos + Uma nova espécie de Apistogramma

Mais uma ano se passou, e o NATURE PLANET completa 8 anos no ar.
Mesmo offline por algum tempo, o blog retorna novamente para seguir seu propósito.

Pra você que pensou que não haveria comemoração de aniversário mais uma vez, aqui apresentamos mais uma matéria. E aguardem novidades em breve.


Uma nova espécie de Apistogramma é descrita pelos ictiólogos Ricardo Britzke, Claudio Oliveira e Sven Kullander na bacia do Rio Ampiyacu no Peru. Apistogramma ortegai se distingue de outras espécies do gênero pelas combinações: barra 7 conectada com a mácula na nadadeira caudal, presença de listras abdominais, membranas curtas na nadadeira dorsal  em ambos sexos, ausência de linhas verticais na nadadeira caudal e reduzido número de escamas pré-dorsal e pré-pélvica.  

Coloração em vida de Apistogramma ortegai

Apistogramma ortegai pertence ao grupo de espécies Apistogramma regani, diagnosticada pela presença de barras verticais, faixa lateral, listras na cabeça iniciando-se a partir da órbita (suborbital, preorbital, pós-orbital, supraorbital), mancha escura na nadadeira dorsal anterior, 3-4 fileiras de dentes na mandíbula, escamas com túbulos na linha lateral inferior, corpo relativamente alto, 1-4 rastros ceratobranquiais e ausência de mancha lateral. Todas as espécies do grupo Apistogramma regani possuem 4 poros infraorbitais e 5 poros dentais.

Etimologia. O nome é uma homenagem ao Professor Hernán Ortega Torres, ictiólogo do Museo de Historia Natural, Universidad Nacional Mayor de San Marcos, em Lima, Peru, em reconhecimento da sua grande dedicação e contribuição ao estudo dos peixes do Peru.
 
Distribuição e habitat. Apistogramma ortegai é conhecida de um pequeno córrego afluente (quebrada) do Rio Ampyiacu no município de Pebas. Todas as amostras foram coletadas ao longo da margem, com a maioria de sua área dentro de uma densa floresta de difícil acesso. O córrego tinha água limpa e ácida, pH 6.0, temperatura 26°C, e uma profundidade de 50 cm. O substrato era composto principalmente por areia e folhas, com um pouco de argila. Vegetação aquática não estava presente. Espécies coletadas juntamente com A. ortegai foram A. bitaeniata, Bujurquina peregrinabunda, Crenicichla sp., Cichlasoma amazonarum, Acestrocephalus sp., Astyanax bimaculatus, Characidium sp., Knodus sp., Leporinus sp. aff. friderici, Moenkhausia margitae, Moenkhausia oligolepsis, Pyrrhulina semifasciata, Ituglanis sp., Rhamdia sp., Gymnotus sp. Sternopygus macrurus
.

  Localidade tipo de Apistogramma ortegai

Para saber mais:
Britzke, R., C. Oliveira & S. O. Kullander. 2014. Apistogramma ortegai (Teleostei: Cichlidae), a new species of cichlid fish from the Ampyiacu River in the Peruvian Amazon basin. Zootaxa, 3869: 409-419

Adaptado e traduzido por Ricardo Britzke © Copyright 2014 ©

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Aniversário de 7 anos atrasado + Uma nova espécie de Killifish

Após uma longa data sem postagens, retornamos para comemorar o aniversário do ano anterior, quando o blog cumpriu 7 anos.




Para comemorar o sétimo ano, apresentamos a descrição de uma maravilhosa espécie de Killifish.
 
Uma nova espécie do gênero Maratecoara  é descrita pelos ictiólogos Dalton Nielsen, Mayler Martins e Ricardo Britzke na bacia do Rio Xingu.  


 Maratecoara gesmonei, ZUEC 7851, holótipo, macho, 23.4 mm SL.

Maratecoara gesmonei é encontrada em uma poça temporária em uma ilha fluvial no médio rio Xingu, estado do Pará, Brasil. Esta é a primeira ocorrência do gênero na drenagem do Rio Xingu, bacia Amazônica. A nova espécie difere de todas as congêneres pelo padrão único de cor com ausência de linhas horizontais e pequenas manchas laranjas escuras na porção antero-dorsal dos flancos (vs. 2-3 na M. lacortei, 3 em M. formosa e M. splendida), ou barras oblíquas laranjas (vs. 4-5 barras oblíquas laranja em M. formosa, 3-4 em M. splendida ou uma grande mancha em M. lacortei). Adicionalmente, a nova espécie pode ser diagnosticada de suas congêneres pela menor altura do corpo (23.7- 25.9% SL vs. 30.4-40.0% SL), menor altura pedúnculo caudal (13.0-15.5% SL vs. 17.1-21.6% SL) e pelo menor número de vértebras, 25-26 (vs. 27-28 em M. lacortei, 26-27 em M. formosa e 27 em M. splendida).


Etimologia.
Em homenagem a Gesmone Fernandes Godoy, o descobridor da espécies


 Maratecoara gesmonei, LBP 18387, paratipo, fêmea, 24.5 mm SL.


Distribuição geográfica.
Atualmente conhecida apenas na localidade tipo, uma poça temporária em uma ilha fluvial no médio rio Xingu, estado do Pará, Brasil.



Habitat. 
Poça anual relativamente grande coberta em sua maioria com densa floresta. A temperatura da água foi de 26,5 ° C a uma profundidade de 25 cm, enquanto na zona marginal da poça a uma profundidade de 5 cm tinha temperatura de 27,5 ° C. A profundidade média da poça foi de foi de 0,5 m, com áreas mais profundas com cerca de 1,20 m. Cor da água era escura e ácida, com pH 5,5. Outras espécies de peixes anuais coletados simpatricamente foram Pituna xinguensis e Plesiolebias Altamira. A poça estava começando a secar e os coletores também encontraram juvenis de Moenkhausia xinguensis, M. ceros, Jupiaba sp., Hyphessobrycon sp., Thayeria boehlkei; Serrassalmus sp., e Hoplias malabaricus. Outros animais aquáticos registrados no local eram girinos e caranguejos de água doceMaratecoara gesmonei sempre foi encontrada em áreas próximas a margem com troncos submersos nas proximidades, em cerca de 50 cm de profundidade, enquanto Pituna xinguensis foi encontrados em áreas mais rasas (cerca de 5 cm de profundidade) e Plesiolebias altamira em áreas mais profundas (cerca de 1 metro de profundidade).


 Localidade tipo de M. gesmonei

Para saber mais:
Nielsen, D.T.B., Martins, M. & Britzke, R. (2014): Description of a new species of annual fish, Maratecoara gesmonei (Cyprinodontiformes: Rivulidae) from the rio Xingu system, Amazon basin, Brazil. aqua, International Journal of Ichthyology, 20 (2): 87-96.


Adaptado e traduzido por Ricardo Britzke © Copyright 2014 ©
 

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Novas espécies de Mazarunia

Duas novas espécies do gênero Mazarunia são descritas pelos ictiólogos Hernan Lopez Fernadez, Donald Taphorn e Elford Liverpool na bacia do Rio Mazaruni. A redescrição de Mazarunia mazarunii também é apresentada.

Mazarunia mazarunii

Mazarunia mazarunii pode ser distinguida de todas as outras espécies de Mazarunia pela presença de dois forâmes (contra um) na face lateral do pré-maxilar, escamas ctenóides (contra ciclóides) no  sub-opérculo, inter-opérculo e região peitoral; coloração particular que inclui barras sub e supra orbitais completas, e por ser la única espécie de Mazarunia com uma faixa lateral formada por manchas associadas com as barras laterais ao longo da linha mediana. Exemplares adultos de M. mazarunii possuem uma barra negra e escura atrás da cabeça que produzem a impressão de um colar.



Etimologia.
O nome do gênero e da espécie refere-se a bacia do Rio Mazaruni.

Distribuição geográfica.
 De acordo com Kullander (1990), foram coletados em um afluente de águas negras do Rio Kamarang, próximo de sua foz no Rio Mazaruni.
 
Habitat. 
Mazarunia mazarunii foi coletado principalmente no alto Rio Mazatuni, em locais com substratos arenosos, eventualmente com vegetação e troncos. Todos os ambientes tinham água negra com os segunites parâmetros: Temperatura 21,8 - 24,5 º C; altos níveis de oxigênio dissolvido: 5,2 - 9,3 mg / L, pH ácido: 4,0 - 4,8; condutividade extremamente baixa: 0 - 10 uS e transparência da água:  0,6 - 0,85 m de profundidade Secchi . Também foram capturados em ambientes de mineração de ouro, que possuem água com menor transparência (0,2-0,3 m de profundidade Secchi)


Mazarunia charadica

Mazarunia charadrica, nova espécie, distingui-se das outras especies do gênero, por caracteres diagnóticos como escamas ciclóides (contra ctenóides) na região opercular, pós-orbital, peitoral lateral e anal genital;  ausência de mancha medio-lateral, e uma área escura difusa cobrindo a porção dorsal da cabeça dando a impresão de um "chapéu negro". Quando juvenil apresenta um padrão único de coloração com sete barras verticais, conservadas parcialmente nos adultos. As barras 3-6 na direção antes da caudasão mais visíveis em exemplares juvenis e em espécimes de tamanho médio se descoloram e quase desaparecem nos exemplares adultos. Muitas espécies mostram somente a barra número 3 (barra medio lateral). 



Etimologia. 
Do grego Charadra, que significa montanha de grande fluxo, em referência à sua preferência por hábitas reofílicos, a espécie é frequentemente encontrada em afluentes íngrimes do maciço de Roraima que formam o Rio Mazaruni. Para ser considerado como um adjetivo na forma feminina.

Distribuição geográfica. 
Mazarunia charadrica possui a mais ampla distribuição de todas as espécies do gênero, encontrada alto Rio Mazaruni e seus afluentes diretos, os rios Karamarang, Kukui e o riacho Abbou, e de vários afluentes do Rio Kako, incluindo Waruma, Sandaa e Paikwa.

Habitat. 
Mazarunia charadrica é a espécie mais reofilica das três espécies do gênero. Embora coletada em simpatria com Mazarunia mazarunii em locais com fundos arenosos e correnteza lenta, esta espécie é mais abundante na área superior da bacia do Rio Mazaruni, especialmente em afluentes rochosos e ricos em corredeiras. Capturado em locais de água negra com alta transparência (0,55-1,0 m de profundidade Secchi), temperatura ( 21,7 - 24,5 º C), pH (4,4 - 4.8), oxigénio dissolvido (5,2 - 9,3 mg / L) e muito baixa condutividade (<10 span="span"> mS)

Nome popular.
Conhecido pelos índios Kamarang e na literatura aquarística pelo nome "Red Patwa"




Mazarunia pala

Mazarunia pala, nova espécie, distingui-se de seus congêneres pela presença de escamas ctenóides na base da nadadeira dorsal (contra ausência em M. charadrica e M. mazarunii), uma pequena barra sub-orbital limitada ao pre-opérculo, ausência de barras laterais distinguiveis no corpo, e por sua coloração geral rosácea com uma mancha média-lateral com uma única marca melânica. Todas as espécies conhecidas do gênero Mazarunia estão restringidas a porção superior da bacia do Río Mazaruni na Guiana.





Etimologia. 
Do grego Pala, que significa pepita de ouro, em referência aos pontos dourados atrás e debaixo da região orbital. Também em referência ao fato de que esta espécie tem sido coletada no canal principal do alto rio Mazaruni, onde ocorre uma crescente exploração de ouro, que está contribuindo para a degradação de seu hábitat. Para ser considerado como um adjetivo na forma feminina.


Distribuição geográfica.  
Mazarunia pala é conhecido a partir de quatro pontos de coleta ao longo do canal principal do alto Rio Mazaruni superior, e também na foz do Rio Kukui e Rio Kamarang.

Habitat. 
Coletados em hábitats muito semelhantes ao de Mazarunia mazarunii, com o qual parece conviver, mas não é tão abundante como a outra. A temperatura da água variou entre 21,7 - 24,5 º C; os níveis de oxigênio dissolvido 5,2 - 9,3 condutividade mg / l; pH 4,4 e condutividade baixa (<10 span="span"> mS).


Quadrados azuis: Mazarunia charadrica, Círculos negro: Mazarunia mazarunii; Triângulos rosas: Mazarunia pala.


Para saber mais
López-Fernández, Hernán & Donald C. Taphorn & Elford A. Liverpool. 2012. "Phylogenetic diagnosis and expanded description of the genus Mazarunia Kullander, 1990 (Teleostei: Cichlidae) from the upper Mazaruni River, Guyana, with description of two new species". Neotropical Ichthyology. v. 10(n. 3), pp. 465-486  


Adaptado e traduzido 
Ricardo Britzke © Copyright 2012 ©  
Fotos de M. mazarunii e M. charadrica by Alf Stalsberg

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

6 anos de Nature Planet + Expedição a Volta Grande do Rio Xingu

Mais um ano se passou, e o NATURE PLANET completa 6 anos no ar. Atualmente contamos com um público de mais de 132.000 leitores espalhados por 145 paises.
 

Para comemorar esse sexto ano, apresentamos a Expedição a Volta Grande do Rio Xingu, um lugar fascinante que está sofrendo várias transformações com a construção de uma hidrelétrica.
 
 

Dessa vez visitamos Altamira - PA, uma cidade as margens do Rio Xingu. O Rio Xingu nasce entre a Serra do Roncador e a Serra Azul, no leste do Mato Grosso. São cerca de 2 mil km percorridos, desaguando na margem direita do Rio Amazonas, na ilha de Gurupá. 
A Volta Grande do Xingu é um local conhecido com 'fall line' (linha de queda), ou seja, o ponto de encontro de um relevo cristalino com outro sedimentar. Nessa queda de 96 metros o rio quadruplica de largura e forma diversas cachoeiras e ilhas, e a força de suas águas causam erosão nas rochas, a mais rígidas permanecem e as sedimentares são degastadas. 

  Corredeiras da Volta Grande

Essa queda, por possuir grande potencial hidrelétrico, foi o local escolhido para a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Esse projeto vem dos anos 70, quando o Brasil vivia seu momento de grandes obras da engenharia, entre elas Itaipu, Tucuruí e Sobradinho. Belo Monte, no passado chamada de Kararaô, e suas "irmãs" alagariam um total de 18 mil km2 e atingiriam sete mil índios de 12 etnias, além de mais alguns grupos isolados na região. Kararaô seria a maior usina hidroelétrica inteiramente brasileira do chamado Complexo Hidrelétrico de Altamira, que reunia as Usinas de Babaquara (6,6 mil MW) e Kararaô (11 mil MW). Sua barragem, que deveria ter a capacidade de armazenar grande quantidade de água durante o período de cheia do rio e utilizando-a mais tarde para a geração de energia. 
Esse projeto gerou revolta das etnias indígenas, e durante o 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, em fevereiro de 1989, na cidade de Altamira (PA), na exposição de Muniz Lopes sobre a construção da usina Kararaô, a índia Tuíra, prima do índio Paiakan, levanta-se da platéia e encosta a lâmina de seu facão no rosto do diretor da estatal em um gesto de advertência e indignação. A cena é reproduzida no mundo todo e torna-se histórica.  O evento foi encerrado com o lançamento da Campanha Nacional em Defesa dos Povos e da Floresta Amazônica, e a obra foi previamente engavetada, mas estava evoluindo longe dos olhos da população. Atualmente, Belo Monte alagará, se os cálculos dos engenheiros estiverem corretos, alagará uma área de 500 km2, e terá potência instalada de 11.233 MW, o que foi um dos fatores que alavancou sua construção. Muito provável que a energia produzida nessa hidroelétrica não seja utilizada para os grandes centros urbanos conforme o prometido, mas sim para abastecer as obras de mineração que estão em andamento na área da Volta Grande. 

Rio Xingu

O futuro dessa área do Rio Xingu que será represada ainda é incerto, mas os impactos sobre a ictiofauna que dependem exclusivamente das corredeiras da Volta Grande será totalmente negativo, muitas dessas espécies entrarão em processo de extinção, por não serem adaptadas a águas lênticas, pois o fluxo de água praticamente vai desaparecer da área da Volta Grande. A área de pedrais dessas corredeiras da Volta Grande, é o habitat dos Acaris do Rio Xingu, que dependem exclusivamente desse ambiente, onde encontram sua alimentação e proteção.
Altamira é conhecida internacionalmente no comércio de peixes ornamentais, pelo seus Acaris ou Cascudos. São várias espécies de diferentes cores que atraem aquaristas do mundo todo, sendo comum vários clubes que visam criar e manter as espécies no hobby. 
A seguir, apresento espécies de peixes e alguns locais que podem deixar de existir em breve...


Corredeiras Volta Grande
 
 



 Panaque cf. ambrusteri, no fundo exportador de acaris ornamentais

Baryancistrus xanthellus L18

Baryancistrus xanthellus L177

Baryancistrus chrysolomus

Leporacanthicus heterodon

Pseudacanthicus sp "red fin"

Peckoltia cf. vittatta

Oligancistrus punctatissimus

Panaque cf. ambrusteri

Hypancistrus zebra

Hypancistrus sp. "Pão"

Hypostomus sp.

Teleocichla sp.

Potamotrygon leopoldi

Centromochlus sp.

 Brycon falcatus

Chalceus epakros

 Rio Xingu



Com a construção dessa hidroelétrica, a cidade está crescendo, a população está crescendo, o dinheiro está crescendo, mas com a finalização dessa obra, ninguem sabe ao certo o que restará. Todos sabem apenas uma coisa, so restaram problemas.

Acredito que posso deixar escrito apenas umas palavras que escrevi no ano anterior:

"Mesmo com toda a destruição que o homem já causou ou ainda pretende com suas represas, a natureza sempre tenta contornar a situação, nos mostrando toda sua riqueza, para que possamos nos conscientizar e manter preservados os poucos locais que nos restam, pois um dia tudo isso poderá desaparecer, e nesse dia será tarde demais para voltar atrás."

Ricardo Britzke © Copyright 2012 © 

Fotos da Volta Grande by M. Vilar e D. Aviz