Mais um ano se passou, e o NATURE PLANET completa 6 anos no ar. Atualmente
contamos com um público de mais de 132.000 leitores espalhados por 145
paises.
Para
comemorar esse sexto ano, apresentamos a Expedição a Volta Grande do Rio
Xingu, um lugar fascinante que está sofrendo várias transformações com a construção de uma hidrelétrica.
Dessa vez visitamos Altamira - PA, uma cidade as margens do Rio Xingu. O Rio Xingu nasce entre a Serra do Roncador e a Serra Azul, no leste
do Mato Grosso. São cerca de 2 mil km percorridos, desaguando na margem direita do Rio Amazonas, na ilha de Gurupá.
A Volta Grande do Xingu é um local conhecido com 'fall line'
(linha de queda), ou seja, o ponto de encontro de um relevo cristalino com
outro sedimentar. Nessa queda de 96 metros o rio quadruplica de largura e forma diversas cachoeiras e ilhas, e a força de suas águas causam erosão nas rochas, a mais rígidas permanecem e as sedimentares são degastadas.
Corredeiras da Volta Grande
Essa queda, por possuir grande potencial hidrelétrico, foi o local escolhido para a construção da
Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Esse projeto vem dos anos 70, quando o Brasil vivia seu momento de grandes obras da engenharia, entre elas Itaipu, Tucuruí e Sobradinho. Belo Monte, no passado chamada de Kararaô, e suas "irmãs" alagariam um total de 18 mil km2 e atingiriam sete mil índios de 12 etnias, além de mais alguns grupos isolados na região. Kararaô seria a maior usina hidroelétrica inteiramente brasileira do chamado Complexo Hidrelétrico
de Altamira, que reunia as Usinas de Babaquara (6,6 mil MW) e Kararaô
(11 mil MW). Sua barragem, que deveria ter a capacidade de armazenar grande
quantidade de água durante o período de cheia do rio e utilizando-a mais
tarde para a geração de energia.
Esse projeto gerou revolta das etnias indígenas, e durante o 1º Encontro dos Povos Indígenas
do Xingu, em fevereiro de 1989, na cidade de Altamira (PA), na exposição
de Muniz Lopes sobre a construção da usina Kararaô,
a índia Tuíra, prima do índio Paiakan, levanta-se da platéia
e encosta a lâmina de seu facão no rosto do diretor
da estatal em um gesto de advertência e indignação.
A cena é reproduzida no mundo todo e torna-se histórica. O evento foi
encerrado com o lançamento da Campanha Nacional em Defesa
dos Povos e da Floresta Amazônica, e a obra foi previamente engavetada, mas estava evoluindo longe dos olhos da população. Atualmente, Belo Monte alagará, se os cálculos dos engenheiros estiverem corretos, alagará uma área de 500 km2, e terá potência instalada de 11.233 MW, o que foi um dos fatores que alavancou sua construção. Muito provável que a energia produzida nessa hidroelétrica não seja
utilizada para os grandes centros urbanos conforme o prometido, mas sim
para abastecer as obras de mineração que estão em andamento na área da Volta
Grande.
Rio Xingu
O futuro dessa área do Rio Xingu que será represada ainda é incerto, mas os impactos sobre a ictiofauna que dependem exclusivamente das corredeiras da Volta Grande será totalmente negativo, muitas dessas espécies entrarão em processo de extinção, por não serem adaptadas a águas lênticas, pois o fluxo de água praticamente vai desaparecer da área da Volta Grande. A área de pedrais dessas corredeiras da Volta Grande, é o habitat dos Acaris do Rio Xingu, que dependem exclusivamente desse ambiente, onde encontram sua alimentação e proteção.
Altamira é conhecida internacionalmente no comércio de peixes ornamentais, pelo seus Acaris ou Cascudos. São várias espécies de diferentes cores que atraem aquaristas do mundo todo, sendo comum vários clubes que visam criar e manter as espécies no hobby. A seguir, apresento espécies de peixes e alguns locais que podem deixar de existir em breve...
Corredeiras Volta Grande
Panaque cf. ambrusteri, no fundo exportador de acaris ornamentais
Baryancistrus xanthellus L18
Baryancistrus xanthellus L177
Baryancistrus chrysolomus
Leporacanthicus heterodon
Pseudacanthicus sp "red fin"
Peckoltia cf. vittatta
Oligancistrus punctatissimus
Panaque cf. ambrusteri
Hypancistrus zebra
Hypancistrus sp. "Pão"
Hypostomus sp.
Teleocichla sp.
Potamotrygon leopoldi
Centromochlus sp.
Brycon falcatus
Chalceus epakros
Rio Xingu
Com a construção dessa hidroelétrica, a cidade está crescendo, a população está crescendo, o dinheiro está crescendo, mas com a finalização dessa obra, ninguem sabe ao certo o que restará. Todos sabem apenas uma coisa, so restaram problemas.
Acredito que posso deixar escrito apenas umas palavras que escrevi no ano anterior:
"Mesmo com toda a destruição que o homem já causou ou ainda pretende com suas represas, a natureza sempre tenta contornar a situação, nos mostrando toda sua riqueza, para que possamos nos conscientizar e manter preservados os poucos locais que nos restam, pois um dia tudo isso poderá desaparecer, e nesse dia será tarde demais para voltar atrás."
Ricardo Britzke © Copyright 2012 ©
Fotos da Volta Grande by M. Vilar e D. Aviz
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