domingo, 14 de setembro de 2008

História da descoberta do Tetra Cardinal e Prêmio

História da descoberta do Tetra Cardinal


Mistério
Autor de uma extensa pesquisa sobre a questão social em torno dos peixes ornamentais do Médio Rio Negro e integrante do Projeto Piaba, Gregory Prang descreve mistérios que envolvem a descoberta do cardinal tetra.
Tudo começou com rumores, no início da década de 1950, de que um “novo neon” teria sido descoberto na bacia do Amazonas. Numa carta de 1953 para um colega alemão, um pesquisador do Instituto Agronômico do Norte em Belém, Harald Siole, relatou que percebera lindos peixinhos brilhantes nas águas marrons do rio Negro, que inicialmente pensou serem neon tetras (Hyphessobrycon innesi).

Paracheirodon innesi

Comentou o fato com pelo menos duas pessoas, Dietrich Horie, de Belém, que trabalhava com a Paramount Aquarium, e o Capitão Mauro, piloto da Panair entusiasmado por peixes ornamentais, que fazia vôos semanais para a região. Este último, teria dito que já tinha pedido a índios encontrarem este peixinho para ele.
A história diz que o Capitão vendia cardinais para colecionadores paulistanos e cariocas em 1957. Mas um depoimento da alemã Amanda Bleher indica a existência destes peixinhos em São Paulo, já em 1953. Ela foi a primeira pessoa que levou esta espécie para a Europa.

Duplicidades
Mais um mistério: em 1956, os primeiros cardinais chegaram aos EUA, porém há dúvidas sobre quem foi o autor da proeza: Fred Cochu, do Paramount Aquarium, ou Herbert Axelrod, a quem muitos atribuem não apenas este feito, como também a descoberta do cardinal tetra para o mundo. Numa carta pessoal que Prang localizou, Axelrod diz saber que seus concorrentes jamais revelariam de onde tiraram o cardinal.
A duplicidade não para aí. Em 1956, duas revistas especializadas publicaram simultaneamente descrições do nosso peixinho, conferindo-lhes dois nomes científicos diferentes. A comissão de nomenclaturas zoológicas teve de ser acionada, e acabou por optar pelo nome: Cheirodon axelrodi.

Paracheirodon axeroldi

O exato ponto onde viviam os peixinhos permaneceu um mistério. Prang localizou um documento justificando o fato: se se revelasse de onde vinham os cardinais, 159 outros importadores iriam encontrá-lo, quebrando a exclusividade da Paramount e, com isso, o valor comercial.
Prang conclui que, apesar de hoje se dizer que Axelrod descobriu o cardinal, foi Harald Sioli quem o localizou, numa época em que os próprios exploradores coletavam os peixes, vendendo o que conseguiam carregar.
Só no final da década de 1950, informa a pesquisa, o comércio começou a se organizar de uma nova forma, aproveitando-se sempre das linhas aéreas que ligavam Mauaus aos EUA.

Mudança no Sistema extrativista
Axelrod teve um papel importante para o crescimento do setor. Em 1958, o indianista Harald Schulz, apresentou-lhe Hans Willy Schwartz, com quem Axelrod se associou para fundar a primeira empresa de exportação formal, Aquário Rio Negro, em Manaus, que hoje existe com outro nome: é a Turkys, do atual presidente da Acepoam (associação local dos exportadores).
Se a criação do escafandro, por Jacques Cousteau, foi fundamental para incrementar exploração do fundo do mar (facilitando, para a decepção do inventor, até sua super-exploração), a descoberta de alguns instrumentos impulsionou o comércio internacional dos ornamentais, como o uso de saco plástico para transportá-los, onde, além da água, insere-se um suplemento de oxigênio.

Paracheirodon simulans

Mais um dado interessante do estudo de Prang: o início do ciclo de coleta de cardinais na Amazônia coincidiu com a decadência da exploração do látex na Amazônia. Para as famílias que não deixaram a região, a extração de piabas transformou-se em perspectiva de renda.
Pagava-se pouco ao piabeiro, mas não mais como no antigo sistema de aviamento, quando havia um único comprador para o produto, que também era dono da venda, comercializando produtos básicos por preços exorbitantes.
Segundo Prang, o piabeiro - apesar de sempre receber muito pouco pelo produto de sua coleta - deixou de ser obrigado a vender para um único comprador, e a fazer suas compras do dia-a-dia na venda deste intermediário, como ocorre em regime de semi-escravidão. “Muitas vezes, o intermediário que compra do piabeiro para vender em Manaus é parente de quem coleta os peixinhos”, complementa o professor Ning Chao, apresentando mais uma faceta desta complexa atividade.

Fonte: AIPA

3 comentários:

Anônimo disse...

Oba, oba, oba....
Gostei demais!!!
Muitíssimo obrigada!
Beijo.

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

têm uma "joaninha" esperando por você lá em casa, uma não, duas....
Passa lá depois e você vai entender!
Tô mandando o meutrabalho pro seu e-mail agora!
Abraço.