segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Nova espécie de Hemigrammus

Uma nova espécie de Hemigrammus é descrita da bacia do rio Tiquié, um afluente do rio Uaupés, sistema do alto rio Negro, Amazonas, Brasil. Descrita pelos ictiólogos Flávio Lima, e Leandro Souza como Hemigrammus yinyang. A nova espécie pode ser facilmente diagnosticada de todas as congêneres pela presença, em vida, de uma mancha alaranjada, situada entre as duas manchas umerais, imediatamente à frente e ligeiramente acima da segunda mancha umeral. Além disso, a nova espécie pode ser diferenciada de todas suas congêneres, com exceção de H. haraldi, H. luelingi, H. neptunus, H. ocellifer, H. pretoensis e H. pulcher, pela presença de duas machas umerais. Ela pode ser distinguida de todas estas espécies por não possuir uma mancha escura no pedúnculo caudal (vs. mancha no pedúnculo caudal presente). É proposto um grupo monofilético dentro de Hemigrammus, englobando a espécie nova, junto a Hemigrammus ocellifer, H. neptunus, H. guyanensis, H. luelingi, H. pulcher e H. haraldi, baseado na presença compartilhada de derivado arranjo de ganchos na nadadeira anal de machos maduros e em algumas características de pigmentação.
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Uma discussão sobre a presença e arranjo de ganchos na nadadeira anal no gênero Hemigrammus e nos gêneros Parapristella e Petitella é apresentada, baseado num extenso exame de espécimes pertencentes a esses gêneros. É hipotetizado que a associação entre ganchos na nadadeira anal e tecido denso presumivelmente secretório, encontrado em todas as espécies examinadas de Hemigrammus, Parapristella,Petitella e Hyphessobrycon, é um mecanismo para facilitar a ruptura das paredes celulares e provocar, em conseqüência, a liberação das secreções celulares.
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Etimologia: Yin Yang é uma representação do príncipio da dualidade, o conceito tem sua origem no Taoismo da China antiga, base da filosofia e metafísica da cultura desse país. Yin, no chinês, significa original mente “sunless”, como lado do norte de uma montanha, e como um conceito evoluído para personificar o elemento escuro, passivo, feminino, correspondendo à noite, o inverno, água, e a terra. Yang significa original mente “sunny”, como o lado do sul de uma montanha, e ela veio personificar o elemento brilhante, ativo, masculino, correspondendo ao dia, o verão, ar e o fogo. Todas as forças na natureza são expressões do yin e dos estados de yang.  A nova espécie é nomeada na alusão as complementares manchas humerais alaranjada e negra, que são reminiscentes do diagrama de Taiji, a representação do estado do absoluto não diferenciado, abrangendo o yin e as qualidades de yan.
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Para saber mais: Lima, F.C.T.; Sousa, L.M. (2009) A new species of Hemigrammus from the upper rio Negro basin, Brazil, with comments on the presence and arrangement of anal-fin hooks in Hemigrammus and related genera (Ostariophysi: Characiformes: Characidae). Aqua, International Journal of Ichthyology 15, pp. 153–168.

Adaptado e traduzido por Ricardo Britzke © Copyright 2009 ©

domingo, 13 de setembro de 2009

Os gêneros Farlowella e Sturisoma

Classificação científica

Ordem  Siluriformes
Família Loricariidae - Rafinesque, 1815
Subfamília Loricariinae - Bonaparte, 1831
Tribo Harttiini -  Isbrücker, 1979


Farlowella Eigenmann & Eigenmann, 1889.

Espécie tipo: Acestra acus Kner,1853. Holótipo: NMW 47795, Venezuela, Caracas.

Gênero: feminino.

O gênero Farlowella é
amplamente distribuído nas bacias dos rios Amazonas, Orinoco, Paraná, e rios litorâneos da Guiana, existindo atualmente 26 espécies válidas descritas.
Apresentam corpo delgado e com um focinho pronunciado, cor acastanhada com duas listras escuras laterais que começam na ponta do focinho, passando sobre olhos e terminam na cauda, sendo interrompidos frequentemente no pedúnculo caudal. Seu corpo possui forma semelhante a um galho fino de madeira.

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 Farlowella sp.

 As espécies habitam áreas de água de fluxo lento, ficando imóveis em galhos submersos, onde se camuflam nesse meio. Alguns espécimes também podem ser encontrados em correntezas de riachos, sobre rochas e galhos submersos. Em seu hábitat natural, alimentam-se principalmente de algas.

O dimorfismo sexual inclui odontodes hipertrofiados
nos machos ao longo das laterais do focinho, ou na cabeça de espécies com o focinho curto. Os ovos são colocados em superfícies verticais abertas, como vegetação ou rochas submersas, em uma única camada que são guardados pelo macho.
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 Farlowella sp.

Análises filogenéticos morfológico e moleculares colocam o gênero Farlowella como gênero irmão de Sturisoma. Este relacionamento é suportado pelo dimorfismo sexual e estratégias de reprodução, que são idênticas em ambos gêneros.

Etimologia: Uma homenagem a William Gilson Farlow, um botânico americano famoso da Universidade de Harvard, cujo o trabalho principal foi estudar as algas, o alimento favorito desses peixes.
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William Gilson Farlow
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Espécies: 
Farlowella acus  (Kner, 1853)
Farlowella altocorpus  Retzer, 2006    
Farlowella amazonum  (Günther, 1864)
Farlowella colombiensis  Retzer & Page, 1997  
Farlowella curtirostra  Myers, 1942     
Farlowella gracilis  Regan, 1904     
Farlowella hahni  Meinken, 1937               
Farlowella hasemani  Eigenmann & Vance, 1917     
Farlowella henriquei  Miranda Ribeiro, 1918                 
Farlowella isbruckeri  Retzer & Page, 1997                     
Farlowella jauruensis  Eigenmann & Vance, 1917        
Farlowella kneri  (Steindachner, 1882)   
Farlowella mariaelenae  Martín Salazar, 1964     
Farlowella martini  Fernández-Yépez, 1972             
Farlowella nattereri Steindachner, 1910      
Farlowella odontotumulus  Retzer & Page, 1997                     
Farlowella oxyrryncha  (Kner, 1853)     
Farlowella paraguayensis  Retzer & Page, 1997     
Farlowella platorynchus  Retzer & Page, 1997     
Farlowella reticulata  Boeseman, 1971            
Farlowella rugosa  Boeseman, 1971            
Farlowella schreitmuelleri  Ahl, 1937           
Farlowella smithi  Fowler, 1913    
Farlowella taphorni  Retzer & Page, 1997                     
Farlowella venezuelensis  Martín Salazar, 1964     
Farlowella vittata  Myers, 1942
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Sturisoma Swainson, 1838.

Espécie tipo: Loricaria rostrata Spix & Agassiz, 1829. Rios brasileiros. Holótipo perdido.

Gênero: neutro.

As espécies do gênero Sturisoma são distribuídas extensamente nas bacias Trans-andina, do Panamá até a Colômbia; e nas bacias Cis-andinas, Amazonas, Orinoco e Paraguaí.  No momento, quinze espécies válidas são reconhecidas.

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 Sturisoma aureum

Habitam águas de fluxo rápido, onde exista galhos e troncos submersos abundantes. O dimorfismo sexual inclui odontodes hipertrofiados nas laterais da cabeça dos machos. Como o gênero Farlowella, as espécies de Sturisoma colocam seus ovos em superfícies verticais abertas, como vegetação ou rochas submersas, que são guardados pelo macho. Em seu hábitat natural se alimenta de algas que crescem em pedras e troncos.

Um neótipo tem ser designado ainda para a espécie tipo Sturisoma rostratum,  pois o holótipo foi destruído durante a segunda guerra mundial. A designação do Neótipo é necessária para se conhecer a localidade tipo, que não é  especificada e pode pertence a qualquer uma das diversas espécies atualmente reconhecidas. Sturisoma e Farlowella são grupos irmãos
, onde o dimorfismo sexual e a estratégia reprodutiva são comparáveis em ambos os gêneros e tendem a corroborar os dados morfológicos e moleculares.
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Sturisoma aureum - casal e ovos

Etimologia: Do alemão sturio, que significa esturjão + do grego soma, que significa corpo.

Espécies:
Sturisoma aureum (Steindachner, 1900)              
Sturisoma barbatum (Kner, 1853)           
Sturisoma brevirostre (Eigenmann and Eigenmann, 1889)         
Sturisoma dariense (Meek and Hildebrand, 1913)          
Sturisoma festivum Myers, 1942             
Sturisoma frenatum (Boulenger, 1902)               
Sturisoma guentheri (Regan, 1904)        
Sturisoma kneri (De Filippi in Tortonese, 1940)                
Sturisoma lyra (Regan, 1904)    
Sturisoma monopelte Fowler, 1914       
Sturisoma nigrirostrum Fowler, 1940    
Sturisoma panamense (Eigenmann and Eigenmann, 1889)        
Sturisoma robustum (Regan, 1904)       
Sturisoma rostratum (Spix and Agassiz, 1829) 


Referências:
COVAIN, R., FISCH-MULLER, S. 2007. The genera of the Neotropical armored catfish subfamily Loricariinae (Siluriformes: Loricariidae): a practical key and synopsis. Zootaxa, 1462: 1-40.  
GHAZZI, M.S. (2005) Sturisoma kneri, new species, a name for an old yet poorly-known catfish (Siluriformes: Loricariidae). Copeia, 2005, 559–565.
ISBRÜCKER, I. J. H. (1979) Descriptions préliminaries de nouveaux taxa de la famille des Loricariidae, poissons-chats cuirassés néotropicaux, avec un catalogue critique de la sous-famille nominale (Pisces, Siluriformes). Revue française d'Aquariologie Herpetologie v. 5 (no. 4) (1978): 86-117.
MONTOYA-BURGOS, J.-I., MULLER, S., WEBER, C. & PAWLOWSKI, J. (1998) Phylogenetic relationships of the Loricariidae (Siluriformes) based on mitochondrial rRNA gene sequences. In: Malabarba, L.R., Reis, R.E., Vari, R.P., Lucena Z.M.S. & Lucena, C.A.S. (Eds.) Phylogeny and Classification of Neotropical Fishes. Edipucrs Porto Alegre, Porto Alegre, Brazil, pp. 363–374.
RAPP PY-DANIEL, L.H. (1997) Phylogeny of the Neotropical armored catfishes of the subfamilly Loricariinae (Siluriformes:Loricariidae). Unpublished Ph. D. Thesis, University of Arizona, Tucson, 280 pp.
REIS, R.E., KULLANDER, S.O. & FERRARIS, C.J. Jr. (2003) Check List of the Freshwater Fishes of South and Central America, Edipucrs Porto Alegre, Porto Alegre, Brazil, 742 pp.
 
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Adaptado por Ricardo Britzke © Copyright 2009 ©

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O gênero Moenkhausia

O gênero Moenkhausia foi proposto originalmente por Eigenmann (1903) para abrigar a espécie Tetragonopterus xinguensis (STEINDACHNER, 1882). Eigenmann (1917) apresentou uma melhor definição para o gênero Moenkhausia, com base na presença de duas fileiras paralelas de dentes pré-maxilares, cinco ou mais dentes na fileira interna do pré-maxilar, linha lateral completa, e nadadeira caudal recoberta por escamas até o meio dos lobos.
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Moenkhausia dichroura
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Devido à falta de uma análise filogenética detalhada, os caracteres propostos por Eigenmann, permanecem como os únicos diagnósticos para o gênero, sendo usados atualmente para definir as novas espécies dentro do gênero Moenkhausia (BENINE et al. , 2004; GÉRY e ZARSKE, 2004; ZARSKE et al. , 2004; LIMA e BIRINDELLI, 2006; BERTACO e LUCINDA, 2006).
Moenkhausia pittieri
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O gênero Moenkhausia possui 65 espécies atualmente consideradas válidas, sendo amplamente distribuídas nas bacias cis-andinas, com exceção da Patagônia. Sua maior diversidade se encontra nas bacias Amazônica e das Guianas (LIMA et al. , 2003).
Moenkhausia cosmops
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A grande diversidade morfológica dentro de Moenkhausia tem levado à sugestão de que esse gênero provavelmente seja um grande grupo parafilético (FINK, 1974; COSTA, 1994; WEITZMAN e PALMER, 1997), por compartilhar diversas características com outros gêneros dentro de Characidae, embora também seja possível que existam grupos naturais neste gênero, segundo Benine (2004).
Moenkhausia melogramma
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O gênero foi primariamente incluído na subfamília Tetragonopterinae (EIGENMANN, 1917) e agora é considerado incertae sedis em Characidae (LIMA et al. , 2003) devido a dificuldades na identificação de caracteres diagnósticos e no estabelecimento das relações filogenéticas entre as espécies do gênero com as demais desta subfamília.
Moenkhausia phaenota
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Géry (1977) propôs três grupos de espécies em Moenkhausia com base principalmente no número de escamas acima e abaixo da linha lateral e altura do corpo como uma ferramenta mais conveniente para a identificação de suas espécies, porém sem nenhum embasamento filogenético. De acordo com a hipótese de Benine (2004), o gênero Moenkhausia pertence a um agrupamento parafilético, onde existem espécies relacionadas aos gêneros Bario, Hemigrammus, Astyanax e a gêneros ainda não descritos até o momento.
 Moenkhausia sanctaefilomenae

 
Etimologia do gênero

Moenkhausia - Em homenagem ao professor William J. Moenkhaus da Universidade de Indiana, e colaborador do Museu Paulista em São Paulo..


 
Carl H. Eigenmann (1863-1927)
 



Referências
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BENINE, R. C. Análise filogenética do gênero Moenkhausia (Characiformes: Characidae) com uma revisão dos táxons do alto Rio Paraná. Tese de doutorado não publicada, 358 pp., 2004. Universidade Estadual Paulista, São Paulo, Brasil.
BERTACO, V. A.; LUCINDA, P. H. F. Moenkhausia pankilopteryx, a new species from rio Tocantins drainage, Brazil (Ostariophysi: Characiformes, Characidae). Zootaxa, 1120: 57-68, 2006.
EIGENMANN, C. H. The American Characidae [Part 1]. Mem. Mus. Comp. Zool., 43: 1-102, 1917.
FINK, W. L.; WEITZMAN, S.H. The so-called Cheirodontin fishes of Central America with description of two new species (Pisces, Characidae). Smithsonian Contributions to Zoology, (172): 1–46, 1974.
GÉRY, J. Characoids of the world. Neptune City. T.F.H. Publications, Inc. Ltd. 672 p, 1977.
GÉRY, J ZARSKE, A. Moenkhausia heikoi n. sp., a new tetra (Teleostei: Ostariophysi: Characiformes: Characidae) from the Rio Xingú basin, Brazil, with a supplementary description of the genus type species. Aqua, Journal of Ichthyology and Aquatic Biology v. 9 (no. 1): 29-43, 2004
LIMA, F. C. T.; BIRINDELLI, J. L. Moenkhausia petymbuaba, a new species of characid from the Serra do Cachimbo, Rio Xingu basin, Brazil (Characiformes: Characidae). Ichthyologycal Exploration of Freshwaters, 17(1): 53-58, 2006.
LIMA, F. C. T.; MALABARBA, L. R.; BUCHUP, P. A.; DA SILVA, J. F. P.; VARI, R. P.; HAROLD, A.; BENINE, R. C.; OYAKAWA, O. T.; PAVANELLI, C. S; MENEZES, . N. A.; LUCENA, C. A. S.; REIS, R. E.; LANGEANI, F.; CASATTI, L.; BERTACO, V. A.; MOREIRA, C. R.; LUCINDA, P. H. F. Genera Incertae Sedis in Characidae. Pp. 106-169. Em: Reis, R. E., S. O. Kullander & C. J. Ferraris, Jr. (eds.), Check List of the Freshwater fishes of South and Central America. Edipucrs, Porto Alegre, 2003, 729 pp.
WEITZMAN, S.H.; PALMER, L. A new species of Hyphessobrycon (Teleostei: Characidae) from the Neblina region of Venezuela and Brazil, with comments on the putative 'rosy tetra clade'. Ichthyological Exploration of Freshwaters, 7: 209-242, 1997.
ZARSKE, A.; GÉRY, J.; ISBRÜCKER, I. J. H. Moenkhausia rara sp. n. – eine neue, bereits bestands-gefährdete Salmer-Art (Teleostei: Characiformes: Characidae) aus Surinam und Französisch Guayana mit einer ergänzenden Beschreibung von M. simulata (Eigenmann in Pearson, 1924). Zoologische Abhandlungen (Dresden), 54: 19-30, 2004.
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Fotos
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José Sabino
Leandro Souza
Lagayi
Reinaldo Uherara
Ricardo Britzke

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