Rhamdiopsis krugi, um novo bagre heptapterídeo troglóbio, é descrito pelos ictiólogos Flavio Bockmann e Ricardo Castro, das cavernas da Chapada Diamantina, Estado da Bahia, nordeste do Brasil. Esta espécie, embora frequentemente citada na literatura ao longo dos últimos dezessete anos, não foi descrita antes em função das suas afinidades filogenéticas incertas. A posição genérica de R. krugi foi obscurecida principalmente pelo seu alto número de caracteres morfológicos incomuns (parte deles relacionada à vida nas cavernas), como por exemplo: ausência de olhos e de pigmentação corporal; presença de um pseudotímpano amplamente exposto; borda posterior do ramo anterior e margem anterior da porção arborescente do ramo posterior do processo transverso da quarta vértebra conectados um ao outro; placa hipural dorsal normalmente com sete raios; placa caudal ventral usualmente com seis raios; lobos dorsal e ventral da nadadeira caudal tipicamente com seis raios ramificados cada; 38-39 vértebras; nadadeira anal com 14-17 raios; e linha lateral muito curta. Rhamdiopsis krugi pode ser facilmente distinguida de seus congêneres, R. microcephala e R. moreirai, por seus caracteres troglomórficos e pela presença de uma linha lateral mais curta, menos vértebras e raios na nadadeira anal, padrão de ramificação dos raios da nadadeira caudal e vários atributos do sistema esquelético. As afinidades desta nova espécie são discutidas à luz do conhecimento atual sobre a filogenia da família Heptapteridae. Caracteres derivados incongruentes não permitem optar por uma hipótese particular de relação de grupo-irmão entre as espécies de Rhamdiopsis. A ocorrência de R. krugi na bacia do rio Paraguaçu é devida, possivelmente, a um evento de captura hidrológica de uma seção da porção média da bacia do rio São Francisco, ocasionada por eventos tectônicos. A região semi-árida onde R. krugi atualmente vive estava provavelmente coberta por uma ampla floresta durante um ciclo úmido no Quaternário. Um sumário das informações sobre a história natural e ecologia de R. krugi, assim como observações sobre sua conservação, são apresentadas.
Rhamdiopsis krugi Photo: Adriano Gambarini.
Etimologia
O epiteto krugi é dado em homenagem a Luiz Krug, guia de turismo profissional, morador da cidade de Lençóis, na região da Chapada Diamantina, que chamou a nossa atenção da existência deste novo bagre e ajudou a recolher a sua série tipo e pelos seus esforços dedicados à sua conservação.
Notas ecológicas
Tendo em conta a densidade populacional relativamente baixa de R. krugi no lago da caverna Poço Encantado, natação e mergulho naquele lugar eram proibidos por lei municipal. Apesar R. krugi sendo conhecida a ocorrer em uma área considerável de largura, que habitam na pelo menos, duas outras cavernas da região, a espécie está ameaçada devido a vários fatores. O habitat onde vivem krugi R. têm baixa circulação da água, favorecendo o acúmulo de lixo e detritos . A Chapada Diamantina está situada no semi-árido do nordeste do Brasil, a região mais pobre do país, que está devastada de forma crônica com o problema da seca. A exploração desordenada das águas subterrâneas na região - há cerca de dois mil poços artesianos - pode levar a a diminuição progressiva do nível do lençol freático. Além disso, as prioridades de conservação devem ser dirigidas a R. krugi porque a poluição das águas do aquífero que alimenta o habitat onde ela vive já foi documentado através de estudos geoquímicos.
Localidade tipo de Rhamdiopsis krugi, caverna do Poço Encantado, Itaetê, Bahia. Photo: Adriano Gambarini.
Para saber mais:
Bockmann, F.A. & Castro, R. M. C. The blind catfish from the caves of Chapada Diamantina, Bahia, Brazil (Siluriformes: Heptapteridae): description, anatomy, phylogenetic relationships, natural history, and biogeography. Volume 8 Number 4, 673-706 December 16, 2010
Adaptado e traduzido por Ricardo Britzke © Copyright 2011 ©
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