domingo, 26 de outubro de 2008

Ciência

Estudo revela peixes que vivem em igarapés de Oriximiná

A maioria dos estudos já realizados sobre a fauna de peixes da Bacia Amazônica tem como foco os rios de grande porte, o que termina por excluir habitats menores, como os igarapés. Tendo isso em vista, o jovem cientista Bruno Ayres, bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica (PIBIC) do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG), investigou a estruturação da comunidade de peixes dos igarapés do Platô Bacaba, elevação de cerca de 200 metros acima do nível do mar localizada na Floresta Nacional de Saracá-Taquera, município paraense de Oriximiná, na região do Baixo Amazonas.
Aluno do curso de Biologia da Universidade Federal do Pará (UFPA), Ayres elaborou trabalho intitulado “Composição, Riqueza e Diversidade de Peixes de Igarapés no Platô Bacaba, Flona de Saracá-Taquera, Município de Oriximiná (PA)”, que foi orientado pelo pesquisador Luciano Montag, especialista em Ictiologia – estudo de peixes – do Instituto de Ciências Biológicas, da Universidade Federal do Pará (UFPA), que já atuou no Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG) como pesquisador associado.


Montag explica que o trabalho integra o Estudo de Impacto Ambiental encomendado pela empresa Mineração Rio do Norte (MRN), que vai explorar a bauxita no Platô Bacaba. “O objetivo é verificar o que acontecerá com a fauna de peixes quando começar a extração de bauxita”, afirma o pesquisador.
O bolsista Bruno Ayres afirma que o trabalho é o primeiro a avaliar a fauna de peixes dos igarapés de Oriximiná, pois, antes dele, as pesquisas se voltaram para os peixes de habitats como rios e lagos.
Ayres acredita ser importante analisar a distribuição e a ocorrência desses animais em igarapés para conhecer ainda mais a riqueza e a diversidade dos ambientes aquáticos da Amazônia. A longo prazo, a idéia é dimensionar os impactos da extração de bauxita para a fauna de peixes dos igarapés do Platô Bacaba.
“A fauna de peixes de um igarapé é distinta da fauna do rio principal, pois os animais são adaptados para aquele ambiente de águas lentas ou quase paradas, com um curso d’água mais estreito e menos volumoso”, afirma.
Os 552 exemplares de peixes analisados na pesquisa, distribuídos em 33 espécies, foram coletados nos meses de junho e outubro de 2007, nos igarapés da nascente dos rios Saracá a Araticum, que compõem a microbacia do Rio Trombetas. Para descrever as espécies coletadas, Bruno contou com o auxílio dos pesquisadores Wolmar Benjamin Wosiacki, da Coordenação de Zoologia (CZO), do Museu Emilio Goeldi, e Flávio Lima, da Universidade de São Paulo (USP).
Troca de espécies - A coleta ocorreu nas épocas de transição entre os períodos de seca e cheia, o que permitiu constatar que a comunidade de peixes desses igarapés pode variar de acordo com o nível do rio. “Observei que as espécies que compõem a fauna desses igarapés na seca mudam quando chega a época da cheia”, sugere Ayres.
“Na seca, algumas espécies migram para outros locais em busca de um maior volume d’água, e outras sobem em direção aos igarapés, então há uma permuta de espécies entre os ambientes”, comenta o jovem pesquisador. O futuro biólogo propõe também que, na seca, quando há um volume menor de água nos igarapés, as interações bióticas (relações ecológicas como competição, exclusão, predação, reprodução etc.) são muito maiores.
Segundo Ayres, relações como competição e predação podem explicar o sumiço de algumas espécies e o aparecimento de outras quando da mudança da seca para a cheia e vice-versa. “Durante a coleta, nós capturamos dois ou três peixes predadores, como a traíra (também conhecida como sulamba), o que mostra que, se eles estão ali, é porque há uma grande disponibilidade de alimento”.

Na opinião de Bruno, a sobrevivência no igarapé depende da capacidade do animal de usufruir de todos os recursos disponíveis nesse ambiente aquático, cujo tamanho reduzido em relação ao rio intensifica relações como competição, exclusão, reprodução etc. “Isso tudo influencia na forma como o indivíduo vai se adaptar àquele ambiente”, suscita, complementando que “se a espécie conseguir utilizar os recursos do igarapé de forma eficiente, vai se sobressair”. A pesquisa mostra que espécies de piaba e bagre são as mais encontradas nas microbacias analisadas.
De acordo com o estudo, não é apenas a fauna que sofre alterações com a vazão ou cheia do igarapé. O próprio ambiente aquático também é afetado. Influenciando diretamente na cheia desses igarapés, a chuva leva muitos nutrientes da floresta adjacente, a Saracá-Taquera, para dentro desses córregos, constituindo uma matéria orgânica que é responsável pela alimentação de toda uma cadeia, até chegar nos peixes maiores. Isso pode explicar o aparecimento de traíras e outros peixes de grande porte nesses ambientes aquáticos.
Riqueza – Ayres comparou o resultado de sua pesquisa, que resultou na descrição de 33 espécies encontradas nos igarapés do Platô Bacaba, com trabalhos científicos já realizados em igarapés amazônicos e concluiu que a diversidade de peixes nesses ambientes aquáticos não varia muito, ficando em torno de 29 e 35 espécies. “Isso pode mostrar que o máximo de espécies que esse tipo de ambiente pode comportar é aquele intervalo devido ao tamanho reduzido do habitat, ao menor volume d’água e à disponibilidade de alimentos”, diz o bolsista.
O número limitado de espécies de peixes, porém, não significa que a fauna dos igarapés da Amazônia é totalmente conhecida. Prova disso é a pesquisa de Bruno Ayres, quando foi coletado um exemplar de piaba maior do que aqueles já descritos na literatura científica e que pode representar uma espécie nova para a ciência. Para isso, foi fundamental o auxílio do ictiologista da USP, Flávio Lima.
O bolsista conta que, durante o processo de descrição das espécies colhidas nos igarapés do Platô Bacaba, Flávio Lima reconheceu essa espécie de piaba e afirmou que já estava descrevendo-a. Segundo Ayres, a certeza de que se trata de uma nova espécie de peixe virá com a publicação do trabalho do pesquisador da USP, “provavelmente ainda este ano”.

Prêmio – Durante o XVI Seminário PIBIC do Museu Goeldi, realizado em julho, o estudo“Composição, Riqueza e Diversidade de Peixes de Igarapés no Platô Bacaba, Flona de Saracá-Taquera, Município de Oriximiná (PA)” foi apontado o melhor trabalho realizado por um bolsista PIBIC em 2007 no âmbito da Coordenação de Zoologia do MPEG.


Fonte: MPEG

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